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(P010)

Cartografias dos silêncios poéticas emergentes

Location C6.02
Date and Start Time 28 June, 2013 at 10:30

Convenor

Pedro Pereira Leite (Universidade de Coimbra) email
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Short Abstract

Diálogos sobre as heranças africanas para a inclusão dos saberes e das poéticas das comunidades locais no reconhecimento dos Direitos Humanos

Long Abstract

Algumas das questões teóricas que têm vindo a ganhar relevância no campo análise das narrativas das memórias é a problematização do esquecimento. Esta é uma questão que se tem vindo a colocar de forma crescente sobre os processos de reconhecimento no campo dos estudos africanos e pós-coloniais. Ela evidencia-se a partir da emergência da reivindicação do resgate das memórias e dos saberes locais como reconhecimento alternativo e emancipatório.

Através da análise da sociologia das ausências e das emergências tem-se problematizado os núcleos de afirmações das narrativas hegemónicas, procurando reconstruir as ausências como proposta de investigação-ação na construção de alternativas emancipatórias com base nos Disreitos Humanos.

A incorporação de resultados de investigações e pesquisas sobre o esquecimento e as ausências tem vindo a reorientar a produção de narrativas identitárias para diálogos com os saberes locais, na busca e incorporação dos traumas e dos esquecimentos como diálogos como base na resolução de conflitos.

Este painel propõe-se apresentar os resultados e experiencias de e diálogos de diferentes olhares de intersubjetividades no campo dos Estudos Africanos. Como ponto de partida para o debate apresentamos como base de problematização a fenomenologia da poética nas narrativas identitárias. É seu objetivo reunir resultados de investigações que são conduzidas em diferentes contextos de investigação na problematização das estruturas simbólicas e de legitimação produzidas pelos membros dos grupos como exercícios de reconhecimento.

Chair: Isabel C Henriques
Discussant: Pedro Pereira Leite

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Papers

Um ordálio de composição social

Author: José Teixeira (Universidade Eduardo Mondlane)  email
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Short Abstract

O texto aborda um caso de ordálio ocorrido no norte de Moçambique. Com este caso procura discutir a questão do pluralismo jurídico, entendendo que a manipulação deste assenta no esquecimento/apagamento dos discursos, práticas e cosmologias locais, numa aceitação das formulações éticas neles transportadas.

Long Abstract

A narração de um ordálio, ilustrativo mas não exemplar. Ocorrido na ruralidade de Cabo Delgado, Moçambique, universo linguístico macua-meto, meados de 1990s. Contemporâneo da pacificação e recomposição sociopolítica com a paz de 1992, no retorno de refugiados (transnacional/transprovincial/transdistrital) cruzando processos (menos abordados) de migrações internas (flutuação nas aldeias comunais, urbanização, crescente neo-localidade matrimonial). E coetâneo do processo de reconfiguração da institucionalização dos poderes locais e seus discursos legitimadores.

Nesta processualidade local influíam a praxis e a discursividade consuetudinárias (sufragadas na década seguinte pelas política estatal e literatura antropossociológica, em derivas pragmáticas e exoticizadoras). E a acção de instituições estatais, reestabelecendo-se em zonas des-estatizadas pela guerra, ONGs (nacionais/estrangeiras) e organismos internacionais (multilaterais/bilaterais). Todos esses agentes participando no processo pacificador (e de desenvolvimento), de reconceptualização societal.

É esse o contexto do caso do ordálio. Ocorrido em aldeia comunal, entre chefe de pequeno segmento de linhagem de parentesco e um curandeiro "naparama". Este pertencera aos guerreiros populares surgidos na Zambézia, utilizando considerações cosmológicas relativamente em desuso, combatendo pelas forças governamentais, armados de poderes mágico/feitícicos. Na paz alguns foram licenciados pelo Estado para funções de curandeiro no Norte. Logo basto solicitados, dada a celebridade dos seus poderes.

Ilustra-se as concepções destas primeiras formas de "oficialização" da justiça consuetudinária, na relegitimação do "tradicional" na prática social. O esboço cartografa um "encaixe" entre fórmulas diversas de entender a acção social e jurídica, a bifurcação entre as lógicas que comandam o actual normativo jurídico em Moçambique e a ambivalência dos seus discursos legitimadores, baseados no pragmatismo.

As narrativas biográficas e as metodologias de investigação-ação sobre a memória e o esquecimento

Authors: Ana Fantasia (ISCTE)  email
Pedro Pereira Leite (Universidade de Coimbra)  email
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Short Abstract

Apresentam-se os resultados da investigação sobre narrativas biográficas sobre a incorporação das memórias sociais no Centro Comunitário de Djavula em Moçambique no âmbito do processo de associativismo agrícola.

Long Abstract

A metodologia qualitativa tem-se mostrado adequadas à recolha de informação original acerca de situações em processo, à produção de conhecimentos através do diálogo entre os investigadores e os membros das comunidades analisada e permite criar soluções adequadas aos problemas com que a comunidade se defronta. Como resultados da investigação verifica-se o envolvimento dos membros das comunidades e o aumento da motivação para a mudança. A investigação torna-se um processo de transformação que dá um indicador da utilidade do trabalho de investigação

A fenomenologia da memória e do esquecimento tem vindo a ganhar relevância no campo das metodologias qualitativas. As questões colocadas aos indivíduos sobre o que é rememorado levantam a necessidade de resolver a questão sobre a quem pertence essa memória. A relevância (lembrança) associada ao seu valor (posse) é assim considerada como atributos de significação de configurações sociais em processo. A resolução da associação da relevância dos saberes e dos fazeres com o seu valor de memória é hoje considerado com uns dos elementos determinantes nos processos de emancipação das comunidades..

Apresentam-se os resultados preliminares duma investigação-ação sobre narrativas biográficas sobre a incorporação das memórias sociais no Centro Comunitário de Djavula em Moçambique no âmbito do processo de associativismo agrícola. Procuramos demonstrar o valor da proposta da memória para o reconhecimento do poder de transformação.

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Memória e esquecimento do Projeto Kalunga: narrativas identitárias e cartografias musicais

Author: Mauricio Castro (UERJ)  email
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Short Abstract

O silenciamento e a cartografia do Projeto Kalunga, um evento político-musical realizado em Angola, no ano de 1980, que levou ao país mais de 60 músicos brasileiros.

Long Abstract

O ano era 1980. Um grupo de 65 pessoas - entre artistas, produtores e técnicos - liderado pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque e pelo produtor Fernando Faro, partiu do Rio de Janeiro e viajou para Angola, país que estava em Guerra Civil, para realizar shows em três cidades; Luanda, Benguela e Lobito, com o objetivo de angariar fundos para a construção de um hospital em Luanda. Esta missão ficou conhecida como Projeto Kalunga, um evento que demonstra um diálogo pós-colonial existente entre Brasil e Angola.

Apesar de ter reunido grandes nomes da música brasileira em Angola, o Projeto Kalunga foi esquecido e silenciado no Brasil. O país ainda se encontrava sob o regime da censura, mesmo vivendo um processo de redemocratização. Devido às conotações políticas da missão africana, vinculada ao bloco comunista em plena Guerra Fria, se impôs o silêncio sobre a sua memória.

O presente trabalho busca analisar as canções gravadas, no retorno da viagem, por alguns dos músicos que integraram o Projeto Kalunga . Nesta perspectiva, são poéticas emergentes que revelam sua memória e denunciam seu esquecimento. Assim, apresentam a cartografia da missão e suas narrativas identitárias, que dialogam com os saberes tradicionais de Angola, como o semba, cuja retomada foi importante para a luta anticolonial e para formulação de uma identidade nacional angolana.

A vinculação às lutas dos movimentos políticos da época, como o apoio ao Movimento Popular de Libertação de Angola, é outra marca do Projeto Kalunga.

Dos espectros e dos fantasmas: reinventando a memória poética de Batepá em Alda Espírito Santo e Conceição Lima

Author: Inês Nascimento Rodrigues (CES/FEUC)  email
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Short Abstract

A partir do conceito de fantasmagoria de Avery Gordon em articulação com a sociologia das ausências de Boaventura de Sousa Santos, analisam-se os poemas sobre Batepá de Alda Espírito Santo e Conceição Lima, tendo-se concluído que estes manifestam diferentes construções da identidade cultural santomense.

Long Abstract

A presente comunicação propõe-se pensar as complexas intersecções entre a memória, a identidade e a literatura na representação e politização de um passado violento, o designado «Massacre de Batepá», em São Tomé e Príncipe. A partir do conceito de "fantasmagoria" de Avery Gordon, em articulação com o exercício da sociologia das ausências de Boaventura de Sousa Santos, analisa-se a obra das poetas Alda Espírito Santo e Conceição Lima, tendo-se concluído que, provavelmente por motivos geracionais, os fantasmas que habitam os seus textos são muito distintos e, por consequência, estas manifestam concepções diferentes daquela que será a identidade nacional e cultural santomense. A análise das heterogéneas representações literárias que sobre Fevereiro de 1953 se construíram vai, assim, na minha opinião, fornecer pistas fundamentais para se poder pensar o colonialismo português nas ilhas e a história política e social de São Tomé e Príncipe.

O discurso alegórico como forma de recontar a história

Author: Jurema Oliveira (Universidade Federal do Espírito Santo - Ufes)  email
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Short Abstract

Os homens precisam estar em condições adequadas tanto física quanto mentalmente para fazerem história. Sendo assim, analisaremos em Maio, mês de Maria (1997), de Boaventura Cardoso, o discurso alegórico como forma de recontar a história do fraccionismo.

Long Abstract

Os homens precisam estar em condições adequadas tanto física, como mentalmente para fazerem história. Analisaremos em Maio, mês de Maria (1997), de Boaventura Cardoso, o discurso alegórico como forma de recontar a história do fraccionismo.

Portugal híbrido, Portugal europeu? Contributos das narrativas ficcionais para uma sociologia pós-colonial das ausências

Author: Sheila Khan (Universidade do Minho)  email
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Short Abstract

Neste painel procurarei reflectir sobre as contribuições ficcionais baseando-me nos romance de Aida Gomes “Os pretos de Pousaflores” (2011) e de Dulce Maria Cardoso “O Retorno” (2011) para uma enriquecimento do que batizei como uma sociologia pós-colonial das ausências (Khan, 2011).

Long Abstract

Como escreve o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos: "o saber que ignora é o saber que ignora os outros saberes que com ele partilham a tarefa infinita de dar conta das experiências do mundo" (Santos, 2008: 27). A investigação sobre a experiência da pós-colonialidade portuguesa, não obstante os seus vários contributos, continua a conviver com imensos silêncios e ausências que, hoje, se tornam relevantes para uma justa vigilância epistemológica. Permanecemos herdeiros das linhas abissais do conhecimento do mundo humano (Santos, 2007), gravemente ignorantes de um mundo mesmo ao nosso lado (Khan, 2011). Imaginando-se como elemento integrante de uma Europa do Norte e produtor de conhecimentos de um Norte Global, Portugal tem ainda dificuldades em aceitar-se como um país do Sul, e visto como sujeito de um Sul Global. Esta dualidade traduz-se numa ambivalência identitária, ideológica, investigacional e retórica, isto porque ora nos imaginamos como país europeu, ora celebramos o nosso hibridismo/lusotropicalismo (Castelo, 1998) e multiculturalismo em muito embebidos na nossa trajectória colonial e colonizadora. Neste painel procurarei reflectir sobre as contribuições ficcionais baseando-me nos romance de Aida Gomes "Os pretos de Pousaflores" (2011) e de Dulce Maria Cardoso "O Retorno" (2011) para uma enriquecimento do que batizei como uma sociologia pós-colonial das ausências (Khan, 2011).

Bug-Jargal de Victor Hugo: as representações culturais e somáticas dos escravos de São Domingos como legitimação da negrofilia e do abolicionismo

Author: Alberto Oliveira Pinto (Centro de Estudos sobre África e o Desenvolvimento ISEG)  email
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Short Abstract

Pretendemos analisar as representações culturais e somáticas dos escravos da colónia francesa antilhana de São Domingos contidas em Bug-Jargal, romance negrófilo de Victor Hugo escrito em 1818.

Long Abstract

Victor Hugo (Besançon, 1802 - Paris, 1885) concebeu em 1818 o romance Bug-Jargal, obra la literatura negrófila francesa cuja acção se desenrola durante a insurreição dos escravos de São Domingos em 1791 e que narra a história do escravo Pierrot, qu ena realidade é o príncipe kakongo (cabindense) Bug-Jargal. Pretendemos analisar como é que neste romance, posterior em 30 anos à criação da Societé des Amis des Noirs, em 1788, o jovem Victor Hugo, se por um lado desconstói as fantasias abolicionistas acerca dos africanos, por outro acaba por sustentar o seu próprio abolicionismo num conjunto de representações culturais e somáticas dos escravos de São Domingos, nomeadamente negros congos, negros crioulos e mulatos, estes últimos hierarquizados pelas 9 classificações propostas pelo historiador martinicano Moreau de Saint-Méry (1750-1819).

Acknowledging the Orishas in Afro-Caribbean and Afro-American cultural formation: a womanist spiritual approach in Painting Away Regrets by Opal Palmer Adisa

Author: Elisa Serna Martinez (University of Granada)  email
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Short Abstract

In Painting Away Regrets (2011), Jamaican writer Opal Palmer Adisa adds a spiritual insight to issues of community formation and family bonding which are of great relevance in the processes of individual and collective identities in the continuum of the African diaspora.

Long Abstract

The specificities of the African diaspora in Painting Away Regrets are portrayed through Christine, a young Caribbean mother settled in America. Adisa's narrative gives account of the linguistic varieties created by Africans as migrant subjects by remarking the existence of a British-African accent, or the use of Jamaican patois in the voice of her characters. Following the line of argument of Carol Boyce Davies in Black Women, Writing and Identity, Black women's writing must be regarded from a conscious state of "expansiveness and the dialogics of movement and community" (1994: 4). Drawing upon cross-cultural perspectives, this novel rethinks concepts and values found in Afro-Caribbean and Afro-American representations of community and self. Additionally, foregrounding the significant role of ancestors in Jamaican communities, Adisa's narrative takes resource not only from historical facts, but also and just as noteworthy, from the voice of the elder ones in the community and from her extraordinary understanding of the mythological and ritual assets of the Yoruba tradition.

As Weir-Soley maintains in Eroticism, Spirituality and Resistance in Black Women's Writings, in Adisa's production we can find Caribbean women who are "at once agents of Eurocentric modernity's nihilism and formidable forces of spiritual and cultural resistance against its destructive potentiality" (2009: 181). Adisa's work proves that black women's writings are redefining identity outside the realms of marginality and exclusion. This piece openly suggests a more comprehensive value system that balances the relationship between African and Eurocentric cosmologies, thus providing the ground for self-realization and social transformation.

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